Esses são alguns desafios que nós teremos pela frente, disse o Presidente Nacional da CUT na plenária realizada nesta terça, em Minas Gerais

Escrito por: Marize Muniz

“A capacidade de organização, de mobilização, de luta e conquistas dos/as trabalhadores/as brasileiros/as é incontestável. E a CUT é o principal instrumento da classe trabalhadora no Brasil. Até a ONU já reconheceu isso. Elegemos um presidente da República operário em um país conservador e preconceituoso. Fizemos muito mais do que nos 500 anos de desgoverno que imperou no Brasil, mas ainda é pouco”.

Foi nessa linha a fala de abertura do presidente Nacional da CUT, Vagner Freitas, na Plenária Sindical, realizada nesta terça-feira, 29, em Ipatinga, no Vale do Aço, em Minas Gerais. Coordenada pela presidenta da CUT-MG, Beatriz Cerqueira, a reunião contou com a participação de representantes de dezenas de sindicatos cutistas, entre eles, Educação, Comerciários, Municipais, Metalúrgicos e Bancários.

Vagner está participando de plenárias nas CUT’s Estaduais de todo o País. O objetivo é fazer um balanço dos 30 anos de CUT, completados em agosto último, e discutir com os dirigentes de cada região estratégias de lutas regionais e nacionais para os próximos anos.  O dirigente tem reforçado em todas as plenárias – já foram realizadas em Pernambuco, Maranhão, Paraná e Bahia – que, em primeiro lugar é preciso parar para pensar no que foi feito, pois muitos cutistas parecem não ter ideia da importância da sua atuação, de suas conquistas.

“Em função das demandas cotidianas”, disse Vagner, “nunca paramos para analisar o quanto realizamos. Precisamos reconhecer nossa resistência, combatividade, defesa dos direitos dos trabalhadores, conquistas e capacidade para apresentar um projeto de sociedade diferente”.

O dirigente ressaltou que as disputas contra o capital e a elite política e os próximos enfrentamentos, requerem uma reflexão do que foi feito no passado e também do que está ocorrendo no presente.

Fim do fator previdenciário, redução das taxas de juros e correção da tabela do IR

Os próximos e mais importantes embates serão as lutas pelo fim do fator previdenciário, fórmula de cálculo criada no governo FHC para dificultar o acesso à aposentadoria, contra o aumento das taxas de juros como forma de combater a inflação e pela correção da tabela do imposto de renda.

No próximo dia 12 de novembro, a CUT e as demais centrais sindicais vão fazer manifestações e paralisações em todo o País reivindicando o fim do fator previdenciário.

“Em função da pauta e das mobilizações da classe trabalhadora, o governo estabeleceu uma mesa de negociação, chamou vários ministros, representantes das centrais sindicais, estabeleceu um prazo de 60 dias para apresentar uma proposta para acabar com o fator ou implementar o 85/95 e não fez nada”, criticou Vagner.

Para o dirigente, “um governo democrático-popular, como esse que ajudamos a eleger, tem obrigação de acabar com o fator”.

E no dia 26, outro grande ato será realizado na porta do Banco Central, em Brasília, e na frente dos prédios do BC nos Estados. Este ato é contra a política econômica equivocada de aumentar taxas de juros para controlar a inflação.

Vagner disse que o COPOM, organizado atualmente pelos ministros do Planejamento, Fazenda e pelo presidente do BC, que tomam as decisões sem ouvir a sociedade, precisa ouvir a sociedade. “Queremos alteração no Conselho Monetário Nacional. Queremos participar do Copom”.

Outra luta será pela atualização da tabela do Imposto de Renda. O governo deveria corrigir a tabela todos os anos porque, caso contrário, o imposto corrói os reajustes que os/as trabalhadores/as conquistam com muita luta em suas campanhas salariais.

“Todos os anos, a tabela de imposto de renda tem de ser corrigida para beneficiar, principalmente, os trabalhadores de baixa renda que são mais prejudicados”, argumenta Vagner.

Orgulho de ser CUT

Voltando a falar sobre os 30 anos de luta, o presidente da CUT, deu mais detalhes sobre o estudo feito pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) entre 2009 e 2010. Segundo a entidade, “a CUT e seus sindicatos resistiram e fortaleceram sua ação coletiva, combinando greves e protestos com negociações. A unidade e a autonomia dos sindicatos e sua crescente vinculação com a política nacional, através do Partido dos Trabalhadores (PT), alcançaram um novo status de autonomia em um país onde a crise não provocou fortes processos de desindustrialização”.

A força da CUT e a gestão do presidente Lula na presidência da República alertaram a burguesia e a elite política do país que nunca esperaram que a classe trabalhadora tivesse essa capacidade de organização, luta e conquistas.

“A burguesia percebeu nossa ousadia. Não esperavam que um operário, metalúrgico, com o 4º ano primário virasse presidente da República. E, se chegasse lá, não ficaria nem seis meses”.

Aconteceu o contrário, continuou Vagner, lembrando que o povo brasileiro  elegeu Luiz Inácio Lula da Silva, que se tornou o melhor presidente da história do país. A estabilidade econômica, a inclusão social, distribuição de renda e geração de empregos estão aí para comprar, argumentou o presidente da CUT.

“Elegemos e fomos às ruas para defender quando tentaram derrubá-lo. Fomos mais ousados ainda e elegemos a primeira mulher presidenta da República. Hoje, o Brasil é exemplo para o mundo. Todos nos chamam para que falemos sobre a nossa trajetória, nossas conquistas e até para que apontemos caminhos para que saiam da crise”.

Nos governos Lula e Dilma, a CUT fez greves, foi às ruas para reivindicar melhorias na saúde, educação e transporte coletivo, lutou por melhores salários, trabalho decente, conquistou a política de valorização do salário mínimo e quase 90% das categorias filiadas a sindicatos cutistas tiveram aumento real de salário.

Este é um balanço dos 30 anos muito positivo, mas ainda há muito por fazer, disse Vagner, ressaltando que as pilastras do estado brasileiro continuam iguais. “Quando digo que fizemos pouco, estou me referindo a mudanças estruturais. As estruturas do Brasil continuam inalteradas. O Estado brasileiro continua patrimonialista, defensor da propriedade, controlado pela burguesia, inclusive no caso do Judiciário controlado, com os latifúndios dando as regras da nossa organização agrária e agrícola”.